sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Luzes



No terminal rodoviário há sempre uma luz amarelada que cria um ambiente de polaroid. As cadeiras sucedem-se, pregadas umas contra as outras, como casais desavindos.

Uma banda sonora difusa, roufenha e imperceptível paira no ar como se viesse de muito longe para acrescentar outra camada de irrealidade.

Parece que o mundo parou.

Os passageiros olham o chão como se evitassem o mundo, de cotovelos apoiados nas pernas abertas e mãos a amparar a cabeça.

Por toda a parte convivem pedaços de papel de prata, restos de embalagens e beatas de diversas idades: acesas, apagadas, quentes e frias, moribundas ou com o óbito confirmado por uma pisadela sem dó.

Por toda a parte um caos de malas, sacos e caixas. E gente mal vestida, com ar sujo e oco, embrutecida, sem reacção.

Não importa o dia. O cenário é sempre igual. As pessoas, as mesmas. A luz, a música, o lixo. Nada muda. Como se na verdade ninguém partisse.