Algumas coisas dão-me fernicoques.
Por exemplo, estar a escrever e ouvir um ruído de fundo irritante que parece ter como único objectivo dar comigo em maluco ou criar um ambiente porreiro para o regresso do Lost. De facto, se fechar os olhos e me concentrar, consigo imaginar-me naquela escotilha de ar fixe que eles rebentaram na segunda série. Ops...ainda não tinha visto a segunda série e dei-lhe cabo da surpresa? Bem feito para aprender a ver as séries ao mesmo tempo que as outras pessoas cultas, lindas e inteligentes.
Outra coisita que me dá fernicoques é o Moleskine. Qual é o mal de escrever uns apontamentos num caderninho Ambar ou Castelo?
"Ai, eu fiz uma viagem fantástica ao Delta do Jeripipicoacoara e tomei notas no meu Moleskine, foi o máximo!" ou "Durante anos apontei tudo o que vi no meu fiel Moleskine".
Como se escrever no malfadado caderninho de marca transformasse um indivíduo insípido num ser interessante e cheio de ideias. Como se o facto de apontar as horas das minhas idas à casa de banho no fidelíssimo as elevasse ao estatuto de registo histórico digno de não sei quantas teses e ensaios.
Apesar disso, devo confessar que ganhei o primeiro e segundo lugar de um concurso de poesia por ter escrito num Moleskine (Mómó ou Mókinhas para os verdadeiros fãs) e que os outros dois poemas, geniais por sinal mas escritos num modesto cadernito Ambar com nódoas de manteiga na capa, ficaram em último lugar. O juri olhou para o papel e disse:
- É pá, este gajo escreve num Mókinhas, já ganhou! - enquanto tentava acertar com os poemas do Ambar no cesto do lixo.
O ruído irritante continua. O Sawyer está a bater à porta para dizer que são horas de almoçar e o Jack fica irritado se chega tarde ao restaurante e já não há baba de camelo. Tenho de ir.