segunda-feira, 21 de abril de 2008

A Turba (Futebolices III)

Deve ser mesmo porque tenho tempo livre. Só assim é que percebo o facto de escrever tanto sobre - belhéque - futebol.

Mas cá vai.

As pessoas raramente pensam sobre o futebol que têm.

A regra é esgotar o tema em conversas com argumentos cada vez mais parvos acerca da qualidade de cada clube ou o asco que lhes causa o emblema dos adversários.

Quando as coisas correm menos bem, dado
o baixo nível de resistência do adepto médio à frustração, o alvo passa a ser o próprio clube que apoiam.

Há quem diga que o futebol é mesmo isto e que pensar lhe retira o sabor e a emoção. Pois. Tá bem. Tomem lá um puzzle para se entreterem, a enfermeira já passa por aqui com as gotas. As melhoras da lobotomia.

O futebol nacional é como uma enorme poia. As moscas que atrai são os dirigentes que ao longo do tempo fecharam clubes, ou os transformaram em feudos privados para negociatas escuras, ou os investidores que aparecem do nada com milhões milagrosos para pouco tempo depois serem procurados pela polícia.

À volta da poia e das moscas, está aquilo a que se chama de "massa associativa" e que normalmente é representada na televisão por quatro tipo de pessoas:

1. Os senhores reformados, com problemas de rosácea causada por anos de pinga, que falam muito alto sem que se perceba nada do que dizem e que já nasceram com um jornal enrolado num dos sovacos.

2. Pequenos meliantes pertencentes a claques organizadas, sempre prontos prá porrada, que falam inclinando a cabeça para o microfone como se lhe fossem dar uma cabeçada.

3. Senhoras gorduchas com falta de um dente da frente, vozes muito agudas e ar ultrajado, prontas a gritar palavras de ordem ao ritmo de palminhas.

4. Tipos que faltaram ao emprego e que acham que falam português pelo simples facto de usarem expressões como "derivado que", "conjuntura" ou "portantos".

Como é que clubes cotados na bolsa têm gestores escolhidos por estas "massas associativas" é uma coisa que me escapa.

A democracia é linda, ninguém duvida disso, mas é para aplicar com parcimónia, nos lugares devidos.

Nas empresas - e os clubes de futebol são precisamente isso, empresas - a escolha de quadros não pode ser deixada ao acaso de manobras populistas, de apelos a sentimentos que por muito reais que sejam não valem nada no mundo cão do desporto profissional do presente.

Aos associados - estuto diferente do de accionistas - deve estar reservado o papel de cliente de empresa, alguém que paga por um serviço e que exige deste a qualidade e atenção que é devida a qualquer cliente. E se não gostar, pode protestar deixando de consumir o produto, neste caso, deixando de ir ao estádio, nao comprando o merchandise do clube. Mas, em caso algum poderá ou deverá interferir de outro modo na escolha dos seus gestores.

Não ver isto, é continuar a pensar o futebol como há 30 anos. A viver de recordações que têm valor mas que por si só não criam riqueza.