segunda-feira, 31 de maio de 2010

Histórias da carochinha

É saudável que não exista apenas uma versão da História. É positivo que se discutam ideias.

Por isso é bom ler este artigo do Público acerca de "A História de Portugal", de Rui Ramos e companhia.

Citação de Irene Flunser Pimentel (diz que é de esquerda): 
"Creio que, neste momento, os historiadores de esquerda, que sempre foram acusados de instrumentalizar, são mais cuidadosos a trabalhar e os de direita até fazem gala em provocar."

Rui Ramos, numa entrevista para a revista Ler, afirmou que era uma personalidade de direita e que gostava de provocar a esquerda.

Irene Pimentel responde bem ao afirmar que:
"Eu não faço História para chatear a direita. Eu sou de esquerda, mas, se quiser fazer política, faço-o no espaço político, não no espaço da História, mesmo sabendo que a minha ideologia está lá."
Rui Ramos diz que a história é toda revisionista, uma afirmação correcta na medida em que não é algo imutável - depende de fontes - nem consegue ser neutral - requer interpretações.

A conclusão de tudo isto é absurdamente banal. Existem bons e maus livros de história. Livros mais e menos "engagé". É necessário ler muito para criar uma imagem da história que nos seja própria. É preciso ter cuidado com os mitos que se criam e que, de tanto serem repetidos, passam a "facto histórico". 


Um exemplo que está fresco na minha memória: é relativamente fácil e pacífico dizer como ocorreu a revolução industrial na Inglaterra. As coisas ficam mais complexas quando, a partir daí, se interpretam resultados e se escolhem ângulos a abordar com mais pormenor. 

Exploração de uma nova classe social nascida a partir do êxodo para as cidades? Uma época terrível para a humanidade? Ou uma época de grandes avanços, o maior salto civilizacional desde o Neolítico? Melhoria geral das condições de vida, acesso a uma nova realidade? Ou raiz de duas guerras mundiais?


É tudo uma questão de pesos. De puxar mais ali e menos acolá.


Por tudo isto, faço tenção de ler a "História de Portugal" de Rui Ramos. Para comparar com outras obras que li antes. Para adicionar mais informação e aumentar o meu espírito crítico. Mesmo que, no final, venha a achar este novo livro uma gigantesca chachada. Mesmo que, no final, o considere desonesto e  uma tentativa de limpar os crimes e asneiras do Estado Novo.