segunda-feira, 15 de novembro de 2004

Noite

Por entre silêncios
a esguia e suave forma de um semáforo
rasteja pelas zonas escuras da avenida
e muda de cor a cada minuto.
 
Por entre o amarelo-pálido das ruas
pelo pavimento molhado e escorregadio
corre a água que se esconde nas sarjetas
com vergonha do lixo que carrega.

Estão tristes os néons
os jardins avisam dos perigos que neles vivem
e irradiam um cheiro escuro a medo.

Das fontes cresce um verdete alienígena
que cria graciosas mutações nos raros transeuntes
gente que arrasta sacos de plástico, copos de cartão
e vinho tinto em pacotes Tetra Pak.

Por todo a parte joga-se solitário
com baralhos incompletos e lágrimas ansiosas
em amargas sucessões de suspiros bafientos
reclama-se em igual medida o amor e o desespero.

Se alguém encontrar a dama de copas
essa vadia de vestido de mau corte
digam-lhe que o valete de espadas ainda espera por ela
todas as noites, no sitio do costume.