terça-feira, 18 de janeiro de 2005

Diálogos Intermitentes Para Jovens Sinistros

- Viste?

- Vi o q?

- Os solilóquios, as megeras, o tempero dos miocárdios!!! Oh, homem de Deus, desesperado rabino dos sete céus, estás cego?

- Sim, reparei quase por acaso. mas o que têm de especial? Parecem-me apenas os restos deixados na praia por uma maré viva de soporíferos...

- É muito mais do que isso, honorífico nababo! A cerimónia celestina ao pé da torre representa as sirenes de boas vindas ao rei dos indigentes, a certificação de santidade das águas furtadas ao limiar da bífida serpentina.

- Deliras certamente, meu bom anfíbio...

- Deliro? Achas mesmo que a ilícita bestunta, sete vezes batida em untadas celebrações, carregada em ombros pelas escadas musguentas da castelar citadela, é um delírio?

- Exageras...

- Se for teu desejo que pare, ampara-me o salivar e cerra-me a glote! Poupa-me no entanto às tuas cuspidelas de súcio.

- Cerrar-te a glote? Nem por sombras, distinto resquício de celestes cavalgadas! Continua...

- A semente germinada terá no fim da estação seca, o poder de intragáveis bestiagas, o sopro amargo de um cupido derrencado. O que vimos, tu e eu, foi a primeira manifestação do desfrute, o desfraldar do estandarte ecuménico dos vizires da pouca-vergonha! Se não acordarmos desta sesta esquizofrénica, em breve seremos tomados pelas hordas do heresiarca.

- Pareces certo de tudo isso, escolástico alferes. Mas não compreendo uma coisa. Se dizes serem ominosas as visões que nos cercam, porque razão não se manifestaram ainda os patriarcas da genuflexão?

- Porque também eles cederam aos etéreos esvaziadores de homens...

- Que dramatismo! Pensava eu que as crenças pagãs, não passavam de exaltações delirantes, escritas em calhamaços delidos...

- Pensa como quiseres. Ignora os meus avisos. Mais tarde arrepender-te-ás e suarás os bofes pelas mãos, como se fosses um porcídeo diante do seu carrasco.