Este coiso aborda essencialmente nada em especial. É rigorosamente imprevisível. Inclui diversas referências ao nicles absoluto e contém níveis elevados de parvoíce. Em dias bons pode encontrar por aqui alguns textos medianamente interessantes sobre cinema, televisão, cultura popular e marketing.
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sábado, 2 de julho de 2011
O filme mais seco do mundo
"Essential Killing - Matar Para Viver", do polaco Jerzy Skolimowski, é um filme seco. Se preferirem uma palavra mais elegante: "depurado".
Um combatente muçulmano é preso pelos americanos após uma escaramuça nas montanhas do Afeganistão. É levado para uma prisão secreta, interrogado e torturado.
Durante o transporte para um novo local de detenção no leste da Europa consegue evadir-se.
Sozinho, num ambiente gelado que contrasta com o sol abrasador da terra onde nasceu, tenta sobreviver.
O filme é isto. Não esperem mais, nem menos. Apenas 81 minutos em que um ser humano desesperado tenta manter-se vivo.
É verdade, Vicent Gallo não diz uma palavra ao longo do filme. Só ficamos a saber que se chama Mohammed durante os créditos finais. Mohammed. Um nome que dificilmente podia ser mais genérico, impessoal. Seco.
Sabemos de onde vem e que tinha uma mulher e um filho. Sabemos que combatia as tropas americanas no Afeganistão. É só. E não precisamos de saber mais nada.
Vincent Gallo é um actor excepcional e este seria, noutra dimensão, noutro universo, um daqueles papéis talhados para o Oscar de Melhor Actor. Seria, mas o mundo não é justo. Tal como o mundo do personagem Mohammed.
Mais do que um drama, ou um filme de guerra, "Essential Killing" é uma tragédia. A sua maior virtude é mesmo o retrato cru do desespero, a ilusão da esperança, o esforço para permanecer vivo acima de tudo. Acima da moral, acima da religião e das convicções.
O que lhe retira força é o facto de vermos Mohammed fazer num cenário de neve e gelo aquilo que fazia nas montanhas poeirentas onde nasceu. Matou antes e continua a matar agora.
O recurso de Skolimowski a algumas cenas mais extremas, para agitar o filme e adicionar dramatismo à acção, apenas realçam essa fraqueza.
No fim de contas, a secura do filme acaba por torná-lo insípido.
Apesar disso, está longe de ser uma obra a evitar. "Essential Killing" merece ser visto, apreciado, pensado. Vincent Gallo por si só vale a deslocação à sala.