quarta-feira, 16 de março de 2011

Diagnóstico: A democracia tem dói-dói

A democracia coitadinha tem dói-dói.

Isso é mau porque gostamos muito dela. Não é perfeitinha, mas não conhecemos melhor.

As principais dores da democracia são:

a) A diluição do poder até níveis homeopáticos.

Votamos para eleger um presidente da república que não manda.

Votamos em partidos para eleger deputados com base num programa de intenções que muda ao fim de pouco tempo. Em termos práticos é um salto de fé, mais do que um compromisso eleitoral. Damos carta branca a uma organização para nos governar durante quatro anos e rezamos para que corra bem.

Votamos para um parlamento europeu sem noção das famílias políticas cozinhadas em Bruxelas porque as designações locais já pouco ou nada têm a ver com as respectivas opiniões e acções políticas. Socialismo confunde-se com social-democracia ou terceiras vias, democracia-cristã, comunismo ou esquerda democrática já não significam grande coisa.

b) Entidades não eleitas e abstractas como "os mercados", "as agências de rating" ou mesmo "a comunidade internacional" condicionam e mantêm reféns os representantes democraticamente eleitos.

c) Em cima disso os 5 grandes europeus continuam a batalhar por velhos fantasmas e sonhos de grandeza. Tudo depurado e adaptado aos novos tempos, mas sempre a piscar o olho à opinião pública lá do bairro. Ao mesmo tempo prejudicam o projecto comum a médio e longo prazo e continuam a mostrar, aos olhos americanos, russos e chineses, que o Velho Mundo, modelo de civilização e moral, ainda padece dos tiques que lhe cortaram as asas na primeira metade do século XX.