quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

As previsões para os media em 2011

A partir de uma troca de ideias nascida deste post do Juan Antonio Giner, os autores dos blogues The Extraordinary Life of Steed e AlexGamela.com decidiram pedir as previsões para a media em 2011 a um grupo de pessoas que muito prezamos.

As respostas variam em profundidade e âmbito, mas todas têm o extraordinário interesse e valor que provém do conhecimento e capacidade analítica dos inquiridos.

Durante a próxima semana o Alex publicará a versão inglesa no seu alexgamela.com em conjunto com alguns comentários adicionais. Será uma espécie de lançamento em DVD com extras :)

Uma chamada de atenção, as previsões do António Granado já foram publicadas na Marketing & Publicidade. São reproduzidas aqui com a benção do António e a devida vénia à publicação em causa.

Sem mais delongas aqui ficam as previsões, ordenadas pela ordem de chegada:



Consultor em new media e Tecnologias de Informação e Conhecimento. Jornalista de 1981 até 2009. Com actividade na Internet desde 1989, tem matéria de análise e divulgação publicada em livros e inúmeros artigos de Imprensa.

A nível internacional:

1. Mais jornais vão tentar modelos de paywall. Na maioria não vai resultar porque na Internet não há massa crítica de idi... leitores dispostos a pagar pelos 95% de conteúdo indistinto que os jornais publicam, e que se encontram nos sites com outros modelos. Uma pequena percentagem vai conseguir um modelo equilibrado.

2. Vai cavar-se a distância entre as top properties regionais (BBC, Guardian, N.Y. Times) e linguísticas (Le Monde, El País, Globo) e as outras.

3. A forma ainda vencerá o conteúdo.

4. Deslumbrados com os números do Facebook e pressionados uns pelos outros, os jornais vão cometer o erro 2.0: fornecer cegamente os seus conteúdos, prestígio e trabalho dos seus colaboradores a plataformas de terceiros sem cuidar, primeiro, de perceber o valor do que obtêm em troca, nem avaliar o trade-off em termos de esforço/recompensa.

5. A meia dúzia de jornais de vanguarda redescobrirá, graças aos exemplos dos novos títulos saídos da iniciativa bloguista, o segredo do sucesso no jornalismo: ter uma redação concentrada, obcecada, em investigar o que é notícia.

6. Mais para o final do ano um grupo de meia dúzia de jornais americanos, ingleses e australianos, com o NY Times à cabeça, vai descobrir o modelo de negócio distribuído, dando a devida atenção aos diversos canais disponíveis, estratificando os conteúdos e diferindo os tempos de acesso em função das especificidades das audiências em cada canal.


A nível português:

1. A excitação e os investimentos em torno das aplicações vão aumentar -- para em 2012 os gurus de segunda vaga descobrirem que afinal os tablets e os smartphones também têm um browser, ahhhh.

2. Os meios com aplicações para iPad/iPhone pagas vão desistir antes do ano terminar.

3. Algumas redações vão descobrir em 2011 que: 1) existe uma coisa chamada World Wide Web; 2) os computadores servem para mais do que bater texto, editar imagem, ver p0rn/receitas e receber spam; 3) o Internet Explorer dá para fazer mais coisas do que ler blogs e os sites da concorrência. Do número de descobertas dependerá a velocidade da migração dos jornais para as plataformas a que continuamos a chamar novas como se a última década tivesse demorado três meses.

4. Subsistirá a dificuldade em redirecionar as Redações para o online. Espremidos até ao tutano, mal pagos, a almoçar na gaveta, os jornalistas não são motiváveis para trabalharem mais, que é o que lhes vão pedir: "olha, e fazes isso também para o online".

5. A Redação integrada não é para 2011. Pelo contrário, algumas ainda vão reforçar a "seção do online" com o que restar nas prateleiras das mudanças de chefia e uma dúzia de estagiários a senhas de refeição. Outras nem isso.

6. As novas narrativas farão aparecimentos tímidos nos títulos mais virados para a frente.

7. O número de jornalistas experientes no desemprego vai aumentar. Vai aumentar os números de estagiários e de copy-pasters a senhas de refeição ou pagos em dólares. O número de jovens jornalistas com um vínculo mais sério vai aumentar, mas pouco.

8. O Público, a RTP, a Rádio Renascença e o Jornal de Notícias vão contratar os meus serviços de jornalista-programador -- ou fazer uma cópia básica dos Tópicos do Jornal de Negócios/Record, o que é péssima ideia do meu ponto de vista.


Jornalista, professor universitário e consultor na área dos new media. Autor de diversos livros sobre Internet e jornalismo. Autor do Online Journalism Blog.

My prediction for 2011 is a raft of data analysis and visualisation tools as various parties try to solve the problems raised by large datasets from governments and increasing numbers of semantic datasets. In the longer term I think realtime information, contextual information and intelligent devices will play an increasingly important role.

Another prediction to add. I said that things would get ugly in 2010 and have been sadly proved right. I think they’ll get even uglier in 2011 as the reaction against the shift in power grows and the fallout from Wikileaks continues. Expect a lot of rushed-through legislation against the invisible threats of the web which has implications for journalists and publishers.



Profissional de Relações Públicas e Comunicação. Senior Consultant na NextPower Comunicação.

1. A imprensa escrita vai estar em mutação.
2. Na imprensa escrita … os líderes serão cada vez mais líderes.
3. Na imprensa escrita … uns acabarão, outros mudarão a periodicidade e outros passarão para online.
4. Novos títulos irão surgir mas com enfoque em nichos. Títulos especializados. Direccionados a comunidades.
5. Os registos e tempo de permanência nas redes sociais vão continuar a crescer em alta velocidade.
6. Mais smartphones, muitos tablets … crescimento de acessos internet por mobile!
7. Todos os media, novos e velhos, a adaptarem-se ao mobile.
8. Velocidade de acesso a internet sempre a aumentar: o WIMAX vai chegar.
9. Uma dúvida permanecerá: conteúdos online ficam gratuitos ou começa-se a pagar?

Jornalista. Editor multimédia na RTP. Professor de jornalismo na Universidade Nova de Lisboa.


1. Os média mais atentos apostarão definitivamente nos conteúdos móveis. Criarão aplicações para todas as plataformas e ganharão visibilidade e audiência.

2. Muitos média com conteúdos medíocres não resistirão a fazer-se pagar por eles, como se fosse possível enganar os utilizadores. Perderão em influência e em publicidade.

3. Os serviços informativos geo-localizados arrancarão definitivamente, fazendo uso das capacidades cada vez maiores dos telemóveis que já aí estão.

4. A continuada redução do tamanho das redacções fará surgir projectos jornalísticos de nicho e hiperlocais que, em última instância, ameaçarão a sobrevivência dos próprios média tradicionais.

5. Os conteúdos jornalísticos de qualidade continuarão a ser a tábua de salvação dos média. Quem não for capaz de os produzir, e continuar a insistir no marketing pelo marketing, afundar-se-á muito depressa.

6. O iPad e os outros tablets não serão por si só a salvação dos jornais. Produzir para estas plataformas exige recursos, imaginação e conteúdos de muita qualidade. A concorrência será feroz, e só os mais capazes sobreviverão.

7. O vídeo continuará a sua escalada como o conteúdo mais procurado pelos utilizadores. Os média terão de saber lidar com esta tendência e preparar conteúdos na área, recorrendo a profissionais especializados, se é que ainda os não têm.

8. As redes sociais continuarão a ser uma plataforma privilegiada para a divulgação dos conteúdos dos média. As novas narrativas que estas redes proporcionam poderão ser exploradas com êxito por aqueles que se prepararem para o desafio.

9. A venda de produtos e serviços poderá ser uma das principais actividades dos média durante o próximo ano. Mais do que simples conteúdo noticioso, os utilizadores querem informação útil às suas vidas e estão dispostos a pagar por isso.

10. A utilização de conteúdos gerados pelos utilizadores continuará a aumentar. Assim como aumentará o chamado jornalismo de bases de dados, ou “data journalism”, permitindo o tratamento noticioso de enormes quantidades de informação.





Jornalista digital. Autor dos blogues "10,000 Words" e "The Digital Journalist's Handbook".

The holidays mean that more people will receive mobile gadgets such as smartphones and iPads, which means and even larger audience for the burgeoning platform.

News media who haven't already must focus on developing content for mobile platforms and apps or take advantage of the inevitable availability of templates that take some of the guesswork out of development. This also means less reliance on Flash and newsrooms will either have to retrain or restaff areas dominated by Flash developers.

The new year will also see a refinement of multimedia strategies. So far many multimedia projects have been experimental in some ways, but we can now look back and see what works and what doesn't and better serve our readers and viewers.

Diretor de "Record" desde 2003. Integra ainda o Conselho Editorial da "Sábado" e é colunista do "Correio da Manhã". Iniciou a carreira jornalística no "Mundo Desportivo", em 1964.

1. As edições diárias em papel continuarão a perder vendas em banca e alguns títulos terão de enfrentar, de facto, o fantasma de encerramento que os persegue.

2. As edições online, gratuitas, aumentarão a suas audiências e os “desportivos” (Record, A Bola, O Jogo e Mais Futebol) manterão o seu domínio dos sites nacionais (240 milhões de papeviews/mês).

3. O suporte e-paper, pago, confirmará não ser modelo de negócio.

4. A “tablet revolution” avançará muito significativamente, mas a crise que afeta a classe média, somada ao nosso atraso cultural, impedirá a sua relativa massificação, única forma de a tornar rentável.

5. Continuará a crescer a influência do jornalista-google e a decrescer a do jornalista-irresponsavelmente-licenciado e também por isso cada vez mais desempregado.

6. Os sites dos principais títulos portugueses desenvolverão lentamente, muito lentamente, os seus projetos de web TV, perseguindo o sonho de uma presença no cabo e de uma nova fonte de receita.

7. Jornalistas da comunicação escrita, com maior espírito de sobrevivência, intensificarão a sua aprendizagem nas áreas das técnicas audiovisuais.

8. Os canais de televisão iniciarão a sua renovação tecnológica e com ela acelerarão o processo de redução de pessoal.

9. As receitas de publicidade cairão entre 20 e 30 por cento, sendo a rádio e a imprensa escrita, em particular a gratuita, os sectores mais atingidos.

10. O novo Acordo Ortográfico será finalmente adotado pelos órgãos de informação que teimam em resistir-lhe.

Consultora de comunicação e relações públicas. Directora-Geral da Fonte Comunicação.

1. Os tablets (parece que o iPad está em vias de esgotar para o Natal) vão intensificar o consumo de informação on-line. Esta tendência poderá trazer com ela a tentação para a cobrança de acessos por determinados media (as chamadas paywalls) que, sinceramente, vejo condenada ao fracasso. Em qualquer caso, terá de trazer novos modelos de negócio.

2. Os jornalistas estão a descobrir avidamente o Twitter e o Facebook, são cada vez mais bloggers e produtores de conteúdos nas redes sociais,  e começam até a ser gestores das suas comunidades on-line. Também haverá cada vez mais free-lancers. Provavelmente o Sindicato de Jornalistas não conseguirá acompanhar esta nova realidade. Parece-me pois provável que um dia destes surja uma associação profissional que congregue os novos interesses e desafios da profissão.

3. A intensificação de fenómenos do tipo “leaks” vai dificultar e confundir a abordagem tradicional dos media ao tratamento de informação. Trabalhar com fontes anónimas e não confirmadas pode trazer, a prazo, a descredibilização do papel de “gatekeeper” dos editores.

4. Os mesmos “leaks” (que se vão reproduzir como um vírus numa sociedade em crise, económica e de valores) vão criar um novo paradigma nos jornais ditos de referência. Aquele que não trouxer um “watergate” por dia em manchete arrisca-se a perder “influência” ou relevância.

- Para o final, deixo duas interrogações:

1. Porque é que em Portugal não se fala de aquisições nem fusões nos media? (tirando o hipotético caso Lusa-RTP, como pensam sobreviver todos os media privados?) Não será a altura de pensar nisso?

2. Estará algum grupo a pensar num diário concebido em exclusivo para o i-Pad, à semelhança do projecto do Murdoch? Se pensarmos que em 2011 deverá haver entre 30 e 40 mil possuidores desta máquina (a que somam outros tablets), a prazo o negócio pode tornar-se interessante.


MANUEL FALCÃO
Iniciou a carreira como jornalista, presidiu ao Instituto Português de Cinema e entre outras actividades foi director da RTP2. Actualmente é director-geral da agência de planeamento estratégico e de meios Nova Expressão. É co-autor do blogue Lugares Comuns.


1- O investimento publicitário nos canais de cabo vai continuar a crescer;
2- O investimento publicitário nos canais abertos de televisão vai continuar a cair;
3- O investimento publicitário em meios digitais vai continuar a crescer e provavelmente ultrapassará o investimento em jornais diários e na rádio;
4 - O investimento publicitário na imprensa vai continuar a cair;
5 - As empresas de media portuguesas ainda não têm um modelo de negócio para estes novos tempos.