terça-feira, 15 de julho de 2008

Como não fazer uma análise de Box Office

Para esta demonstração vamos pegar num artigo publicado hoje no IOL.

Primeiro ponto. Quem escreveu não deve saber inglês. E isso é grave para quem escreve online. Senão teria recorrido a uma fonte mais próxima do acontecimento e não citaria uma notícia de um site brasileiro. Nada contra os sites de cinema brasileiros, alguns até são bastante bons mas, para me informar sobre o box-office americano, o lógico será recorrer a fontes desse próprio país.


Segundo ponto. O que quer dizer isto?

"«Hellboy II» já pode ser considerada a maior estreia do realizador Guilhermo Del Toro nos cinemas e há estimativas que atinja os 100 milhões de dólares (73 milhões de euros) só nos Estados Unidos, superando o seu custo de produção de 85 milhões de dólares (cerca de 62 milhões de euros)."

"(...)já pode ser considerada a melhor estreia do realizador(...)" é um disparate. Estamos a falar de números. Ou é a maior estreia ou não é. Neste caso é realmente a melhor estreia de um filme realizado pelo Guillermo del Toro (não Guilhermo). O Hellboy II fez 35 milhões, o Blade II fez 32 milhões há seis anos.


Terceiro Ponto. Quando é que um filme dá lucro?

"(...)há estimativas que atinja os 100 milhões de dólares (...) só nos Estados Unidos, superando o seu custo de produção de 85 milhões de dólares(...).

"Já é o quarto filme mais lucrativo nos Estados Unidos(...)"

este tipo de expressões são enganadoras.

O facto de um filme ultrapassar em receitas o valor de produção não significa que esteja a dar lucro.

O box-office bruto de um filme (o valor que aparece em todas as tabelas de BO publicadas nos media) refere-se ao dinheiro obtido pela venda de bilhetes. A esse valor há que retirar os impostos, obtendo assim o box-office líquido.

O box-office líquido é então dividido entre o exibidor (o dono da sala de cinema) e o distribuidor. As percentagens divergem de país para país e são condições confidenciais estabelecidas entre ambas as partes como em qualquer negócio.

Nos Estados Unidos pode calcular-se grosso modo uma percentagem de 50% para cada lado a que se dá o nome de rental. Ou seja, nada de dizer que o filme é mais ou menos lucrativo baseando-se apenas nos números do BO bruto.

Para poder calcular tal coisa é preciso saber quanto custou o filme e deduzir esse valor ao rental obtido pelo distribuidor. Depois, há que não esquecer que um filme é um produto vendável diversas vezes e com variadas fontes de receita. Há o home entertainment, a televisão, os direitos de licenciamento de produtos (a que normalmente se dá o nome incorrecto de merchandising). Tudo isso adiciona aos lucros do filme e ajuda a torná-lo rentável.

Cappicce?