quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Ó Steed, as personalidades do ano da Time são todas muito boazinhas?

Não.

As personalidades do ano são escolhidas pela influência que tiveram:

a) Nos Estados Unidos (nos anos em que optam pela prata da casa)

b) No mundo (quando a prata da casa é fraca ou alguém dá mesmo muito nas vistas).

c) Em ambos, como é o caso deste ano.

Tudo isto a propósito da escolha do menino Zuckerberg como Personalidade do Ano 2010.

Vamos esclarecer o seguinte, a escolha é da responsabilidade da publicação. Todo o barulho sobre o facto de o moço Assange ser o preferido do público é um pouco deslocado. O Senhor das Fugas foi o mais votado numa eleição online. Só isso.

Entretanto, uma conversa com amigos sobre o tipo de pessoas que normalmente são escolhidas como Personalidade do Ano serviu de pretexto para mergulhar na história da distinção.

Com a valiosa ajuda do sítio da Time consegui recolher em poucos minutos alguns dados engraçados (abençoada Internet!).


Era uma vez a pessoa do ano...

Tudo começou em 1927. Nessa altura, levou a designação de "Men of the Year" e o primeiro escolhido foi Charles Augustus Lindbergh, acabadinho de completar o primeiro voo transatlântico da história, entre os EUA e França. Mais tarde ficaria ligado à furiosa defesa do isolacionismo americano e seria acusado de simpatizar com os regimes fascistas europeus.

A década terminou com a distinção de dois homens de negócios. Em 1929 deu-se o Crash da Bolsa. Foram precisas décadas para que os gestores de empresas regressassem à capa da Time.

A década de 30 começou com a distinção do Sr. Mohandas Ghandi. Estranho sinal. Um pacifista a marcar o início de uma época de guerra e violência extrema.

O homem seguinte é, só por si, uma lição de história. Pierre Laval começou como deputado socialista, foi Presidente do Conselho de Ministros Francês em diversos governos antes da guerra, regressou a convite de Petáin durante o Regime colaboracionista de Vichy, assinou os infames despachos de deportação dos judeus franceses e acabou julgado e executado pelos compatriotas em 1945.

Frankin Delano Roosevelt levanta pouca contestação. Apareceu três vezes na capa da Time: em 1932, 1934 e 1941.Foi o único a conseguir tal proeza.

Em 1936 surge a primeira mulher. Infelizmente, não porque tenha concretizado algo de maravilhoso ou revolucionário. Wallis Warfield Simpson limitou-se a fazer andar à roda a cabeça de um futuro Rei de Inglaterra.

As duas capas mais interessantes do século vêm a seguir. Adolf Hitler em 1938 e Stalin em 1939. Eis a resposta à pergunta que dá título a este texto: não, as capas da Time Magazine não são garantia de santidade. Pior ainda, Ioseb Jughashvili voltou a ser Personalidade do Ano em 1942.

Winston Churchill surge em 1940, na altura em que só a Grã-Bretanha resistia á loucura nazi. Repete nove anos depois, como personalidade da primeira metade do século.

No resto da década de 40 a América decidiu recompensar os seus heróis e governantes com Marshall e Truman a bisarem.

O pós-guerra viu mudanças de cenário e de aliados. Em 1950, a distinção foi atribuída, pela primeira vez, a um grupo de pessoas: os soldados americanos. Uma honra repetida recentemente, em 2003.

Em 1956 a honra colectiva foi para os "combatentes pela liberdade", na Hungria.


A opção pelo lado sorridente da vida

Em 1979, a Time escolheu, pela última vez, um "vilão". Foram tantos os protestos pela escolha do Ayatollah Khomeini que, desde aí, a revista optou por escolhas menos polémicas. Albert Einstein como Personalidade do Século, em vez de Adolf Hitler. Rudolf Giuliani no lugar de Osama Bin Laden no ano do ataque terrorista a Nova Iorque.

Essa opção pelo lado mais positivo (e politicamente correcto) da actividade humana pode explicar a opção dos editores por Mark Zuckerberg.

Por outro lado é bom relembrar que as fugas de informação já foram premiadas uma vez com a presença na capa do número especial da Time Magazine. Em 2002, três mulheres denunciaram casos graves em duas grandes empresas, a Enrom e a Worldcom, e no FBI. Apareceram em conjunto, na capa, sob a designação de "Whistleblowers" (mais ou menos aquelas que puseram "a boca no trombone").

Ligações de interesse:
Todas as capas de Personalidade do Ano da Time Magazine
A Personalidade do Ano 2010