domingo, 17 de outubro de 2010

Os intelectuais que comiam palavras

 
Um grupo de intelectuais decidiu começar a comer palavras. Começou por alguns artigos, substantivos de pouca importância e adjectivos com escasso uso.

Ao terceiro dia, um dos intelectuais engasgou-se com um verbo irregular e morreu asfixiado perante o olhar incrédulo dos companheiros.

A partir daí, os intelectuais comedores de palavras decidiram não engolir as palavras e limitaram-se a mascá-las.

Algum tempo depois, descobriram com surpresa que o seu hálito dependia das palavras mascadas durante o dia.

Quem mascava palavras com significados positivos, associados a beleza ou bondade, exalava um hálito agradável.

Os que preferiam vocábulos sombrios ou termos que evocam acções sinistras ou maléficas, soltavam um indescritível bafo pútrido que os obrigava a bochechar durante horas com um elixir de gramáticas e prontuários.