sábado, 13 de dezembro de 2008

As características do "Betismo"

Ontem estava a ouvir um daqueles programas de rádio em que duas pessoas falam uma com a outra (a minha vizinha de cima, que estava a estender a roupa, grita-me que a isso se chama diálogo).

Sei quem é a senhora mas desconheço o nome do participante masculino. Algo, no entanto, têm em comum. Os sintomas desse problema nacional que dá pelo nome de "Betismo".

O "Betismo" é uma forma de estar na vida. Uma formatação psico-motora (também foi a vizinha de cima, que acabou de deixar cair umas cuecas na minha varanda, que me explicou o que isto era).

Uma das demonstrações mais evidentes do "Betismo" é a tendência para comer sílabas. O "para" transforma-se em "pa". O "está" em "tá". As expressões "com a" ou "com o" passam a "ca" ou "co".

Existe ainda um tom de voz sempre igual e a ausência de expressão ou de qualquer tipo de emoção. Quem sofre de "Betismo" diz: "a tia Mariazinha levou cum piano em cima" e "Adelaide, hoje o senhor engenheiro não janta em casa" exactamente da mesma forma.

Os doentes, revelam também a incapacidade de exprimir um sentimento de forma directa. Nunca estão irritados ou com medo. Sentem-se apenas "incomodados".

"Sinto-me um pouco incomodado porque aquele senhor de capuz tá a apontar-me uma arma e diz que quer o meu BMW".

Como consequência de tudo isto, emitem opiniões de forma cuidadosa.

Nesse programa de rádio, discutia-se o caso das faltas dos deputados do PSD.

Dizia-se que sim, que estava mal, mas, por outro lado, o senhor lembrava de dez em dez segundos, que os deputados trabalham imenso. E que não estavam a falar de todos os deputado mas apenas de alguns.

Ou seja, critica-se, mas não muito porque algum dia podemos querer ser deputados e não é bom estar assim a dizer muito mal.

Há quem diga que isto é o que se chama classe e educação. Que são estas "piquenas" coisas (os doentes com "Betismo" também não sabem dizer "pequenos") que fazem a diferença entre pessoas de bem e o povo.

Pode ser, mas estragam tudo quando dizem "pa", "prontos" ou "piquenos".