quinta-feira, 7 de agosto de 2008

A vida para lá dos blockbusters

François Cluzet em "Ne Le Dis à Personne"

Os americanos arranjam termos para tudo e mais alguma coisa. A indústria do entretenimento é bastante rica em expressões coloridas e práticas que ilustram o sucesso (blockbuster) , o falhanço (flop), ou a surpresa (sleeper).

Um sleeper é isso mesmo. Um filme à partida com pouco potencial que, inesperadamente, se transforma num pequeno sucesso, mensurável em médias por cópia e tempo em cartaz.

Os sleepers são os meninos bonitos de críticos e analistas e todos lutam pela glória de prever o surgimento de um desses bichos raros. Mas, claro, não é possível prever um sleeper.

A grande maravilha da indústria do entretenimento é exactamente a sua imprevisíbilidade. Os gostos do público mudam mais rapidamente do que o Cristiano Ronaldo muda de namorada e quem segue tendências arrisca-se a falhar com grande estrondo. Ah, e inovar também não é nada fácil.

Isso leva-nos a três regras de ouro:

a) Os executivos dos estúdios tendem a ir sempre atrás do último filme de sucesso embora a experiência prove que essa estratégia não compensa. Ai o "Sex and the City" fez dinheiro? Embora lá fazer mais 20 filmes para gajas.

b) Os estúdios são avessos ao risco e por isso a não ser que tenhas uma reputação à prova de bala é mais prudente não inovar muito. Ou seja, se não te chamares Joel Silver ou fores um dos irmãos Wachowski, não te metas a tentar realizar filmes psicadélicos para putos.

c) Quando pensamos que estamos a ir atrás daquilo que o público quer, já ele mudou de opinião. O quê? A nossa comédia com piadas escatológicas não fez dinheiro? Mas o "American Pie" fartou-se de facturar!

Voltando aos sleepers. Em Portugal, há poucos meses apareceu um. Chamava-se "La Grain Et Le Mulet". O título local foi "O Segredo de Um Cuscuz" (Toda a gente diz horrores mas eu até gosto deste título). Durante semanas a fio teve a melhor ou segunda melhor média por cópia do mercado português. Esteve em exibição em dois cinemas, não mais do que isso.

Hoje, enquanto buscava algum assunto que me chamasse a atenção no meio das notícias de cinema vi um artigo do Los Angeles Times sobre um filme francês chamado "Ne Le Dis à Personne" de Guillaume Canet. A surpresa é dupla. Primeiro porque o filme já tem dois anos e depois porque é francês e os filmes em língua estrangeira (para os americanos, tudo que não o inglês) têm muitas dificuldades em se afirmar no mercado norte-americano, avesso a ler legendas.

Embora a distribuíção esteja limitada aos maiores centros urbanos (e às zonas mais sofisticadas) o filme pegou no circuito alternativo ou art-house como lhe chamam.

Curiosamente, foi o segundo filme legendado a obter bons resultados este Verão, nos Estados Unidos, depois do épico "Mongol".