sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

O lado negro dos cisnes


Fui ver "Cisne Negro" com uma pressão horrível às costas. Tanta gente a tecer elogios, a clamar que cousa tão boa nunca se houvera visto neste reino.

"Se não gosto vão pensar que sou um piroso que diz mal só para parecer diferente."

Saí deprimido, a pensar que, se calhar, já não gosto de cinema.

A Natalie Portman faz um papelão. Bom, o filme é a Natalie Portman. E sim, Nina exigiu um trabalho gigantesco para recrear de forma convincente a vida de uma prima ballerina, incluindo aprendizagem de ballet clássico - truques, efeitos visuais e duplos à parte. Não sei se convence uma profissional. A mim, convenceu-me, a moça merece muito o Oscar.

O problema é que "Cisne Negro" esgota-se no desempenho da actriz e ao argumento falta sumo para as pretensões de Aronofsky. Nada contra as histórias simples. Infelizmente, esta acaba por ser um suporte frágil para o espectáculo solitário de Portman. Árido e previsível são dois adjectivos que lhe assentam como uma luva. E sim, o Darth Vader veio-me à mente em diversas ocasiões, quase o podia ouvir dizer: "come to the dark side, Nina..."

Depois vêm as embirrações pessoais. Em algumas sequências a agitação da câmara causa-me desconforto físico. Acredito que transmita algo muito bonito e profundo. A mim, dá-me apenas náuseas.

Gostei do foco nos detalhes, a preparação dos sapatinhos, os pés, a forma como o corpo é filmado, o ondular harmonioso dos músculos e dos ossos a acompanhar os movimentos das bailarinas. Há por ali gosto e inteligência.

"Cisne Negro" é um bom filme que, por sorte, caiu no goto e, por artes marqueteiras, estreou e foi promovido de forma correcta.

Os Oscars são um jogo que todos concordamos em jogar, mas não exagerem.

Ainda bem que "Cisne Negro" caiu no radar da Academia, mas não exagerem.

Todos os anos se fazem coisas muito melhores e ninguém dá por nada. É o eterno drama desta coisa dos prémios.

Dou-lhe 36 frou frous e 45 pas de deux.