domingo, 7 de setembro de 2008

A selecção nacional de basquetebol - De bestiais a bestas in no time

Depois do último campeonato da Europa, Valentyn Melnychuck, durante 13 anos seleccionador nacional de basquetebol, decidiu regressar à Ucrânia para dirigir a equipa do seu país.

A Federação, após ter falhado a primeira escolha, Mário Palma, contratou o espanhol Moncho López. O curriculo parecia mais do que adequado: seleccionador espanhol durante dois anos, treinador do CD Baloncesto Sevilla da Liga ACB, a segunda melhor do mundo logo atrás da NBA.

O basquetebol nacional a nível de selecções estava melhor que nunca. Apurado para o Europeu pela primeira vez em décadas, com uma presença bastante acima do esperado, tudo apontava para o início de mais um ciclo positivo ao mesmo nível.

Com os clubes, passava-se exactamente o oposto. Após 12 anos, a competição profissional assumiu o seu falhanço, após acumular prejuízos e ter conduzido diversos projectos à falência, levando nomes como o Queluz, a Oliveirense ou o Beira-Mar para competições inferiores.

A presença de equipas portuguesas nas competições europeias ficou reduzida a aparições esporádicas, com resultados medíocres. Nada que se possa comparar com o nível das décadas anteriores em que era possível ver o Benfica ou a Ovarense a lutar de igual para igual contra adversários franceses, belgas ou polacos.

A generalidade das equipas europeias deu um passo em frente e as portuguesas recuaram, levando mesmo alguns atletas a procurar maior competividade e salários mais elevados em equipas espanholas das Ligas LEB (segundo, terceiro e quarto nível de competição em Espanha, abaixo da Liga ACB).

A entrada em colapso da LCB, a liga profissional portuguesa, reduzida a apenas 8 clubes, fez regressar tudo ao ponto inicial. A Federação Portuguesa de Basquetebol (FPB) não escondeu o entusiasmo pelo regresso de todos os clubes ao seu controlo e irá organizar agora uma nova prova chamada Liga Portuguesa de Basquetebol (LPB) que terá jornadas cruzadas com o segundo escalão, a Proliga. Cada liga terá 12 equipas, com a LPB a assimilar as oito sobreviventes da LCB.


Mas a era Moncho López não tem sido a continuação dos últimos tempos de Melnychuck. Começou com uma vitória sobre a selecção B de Espanha por 77-69. Continuou com uma presença ambiciosa num torneio em Espanha com as três melhores equipas da Europa. Resultados, derrotas com a selecção principal espanhola por 84-35; com a Russia por 86-64 e com a Lituânia por 61-90.

Seguiu-se um torneio triangular na Eslováquia, com duas vitórias contra a Holanda (67-51 e 80-69) e uma derrota contra os anfitriões por 70-79.

De regresso a Portugal outro triangular desta vez com três triunfos. De novo contra a Holanda (63-59) e contra a Túnisia (92-67).

Nova viagem. Presença no torneio Efes Pilsen World Cup, na Turquia e mais três derrotas: 64-83 contra as Bósnia; 68-75 contra a selecção da casa e, sinal bastante sério de que algo não está a correr bem, derrota contra a Grã-Bretanha por 79-80.

Por fim, a competição a sério. Qualificação para o Eurobasket 2010. Derrotas em casa contra a Estónia por 70-79 e fora contra a Macedónia por 48-85 e o adeus à qualificação directa.

Durante este Verão a selecção nacional disputou 14 jogos. Saldo: 5 vitórias e 9 derrotas.

Existem várias atenuantes, se quisermos ser simpáticos para Moncho Lopéz. Chegou em cima da hora, ainda não conhece o basquete português, está a implementar um novo projecto que demorará tempo a revelar os seus aspectos positivos, que Melnychuck também levou tempo até obter resultados.

Se quisermos ser antipáticos, podemos dizer que em Espanha ficaram contentes com a sua saída da selecção nacional, que foi despedido da única equipa que treinou na liga ACB porque não conseguiu melhor do que um 13º lugar, que a sua reputação é fraca, que começar contra as três melhores equipas europeias do momento foi contra-producente, que efectuar tantas viagens e tantos jogos durante o Verão foi uma má opção.

Na prática, a selecção Portuguesa voltou a um nível mais baixo do que tinha antes do Eurobasket 2007.

Notas de esperança:
  • Vem aí a primeira edição da LPB. Deseja-se que corra bem e que as equipas Portuguesas comecem a recuperar o tempo perdido na última década.
  • A selecção sénior feminina tem estado a fazer uma campanha excelente na qualificação para Divisão A do Eurobasket e lidera o seu grupo com 3 vitórias e 1 derrota.
  • Pode ser que o trabalho de Moncho Lopéz venha a dar frutos a médio prazo.
Nota de saudade:
  • A Ucrânia de Melnychuck venceu a França por 78-77 e mantém-se na corrida para o apuramento no seu grupo.
Nota pessimista:
  • Se Portugal não melhora rapidamente e consegue pelo menos uma vitória no seu grupo, arrisca-se a ter de disputar o play-off de despromoção à Divisão B.