segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

A imbecilidade nacional do ano: as petições online

Acontece pouco neste país. O povo tem de encontrar formas de se entreter.

Passada a moda de trancar administradores dentro de fábricas, bloquear estradas com pneus a arder ou organizar buzinões, este ano a novidade são as petições online.

O processo é simples. Primeiro a turba excita-se com um assunto. Depois, passam à histeria colectiva. O terceiro passo tem lugar quando alguém mais afoito coloca uma petição online e enche as caixas de e-mail de colegas, fornecedores e amigos com uma mensagem pungente e emocionada, incitando-os a cumprir o dever e assinar a dita.

Existe um quarto passo surpreendente. Como não acontece mesmo, mas mesmo nada interessante cá no burgo, a imprensa entretém-se a servir de caixa de ressonância a estas petições. Levam-nas a sério, como se servissem para alguma coisa e escrevem grandes, enormes, gigantescos títulos sobre elas.

Porque é que tudo isto é parvo? Porque estas petições têm tanto valor legal como se, de repente, me lembrasse de levar uma caixa cheia de caracóis à Câmara Municipal de Lisboa como forma de protesto sobre o tempo que o pedido de uma certidão demora a efectuar o percurso Campo Grande-Quinta do Lambert.*

Porquê? Pergunta o raro e desprevenido leitor. Ora, porque não existe qualquer sistema que identifique quem assina. Comprovei isso mesmo ao assinar a petição online contra os radares em Lisboa. Assinei como "Chico Acelera" - juro-vos que não é o meu nome - e juntei um comentário polido sobre o facto de achar que "a velocidade máxima em Lisboa devia ser 32 km/h". E foi aceite.

Conselho anarca e subversivo: Da próxima vez que vos pedirem para subscrever um destes disparates, assinem como "Popota" ou algo que o valha. Vão ajudar a convencer muita gente de que não vale a pena perder tempo com estas famosas "petições online".

E comam fruta e legumes.


*Correcção. O meu advogado leu isto - o pobrezito a tal é obrigado porque tem de ver se  não me meto em alhadas - e disse que, quase de certeza, os caracóis têm mais valor legal que as petições online.