terça-feira, 24 de outubro de 2006

Os Inúteis

Arnaldinho saiu da cama, calçou os chinelos e arrastou-os para a casa de banho, acendeu a luz, olhou-se ao espelho, passou a mão direita pela cara e sentiu os pêlos da barba que cresceram durante a noite. Rodou o corpo, deslizou um pouco para a frente, baixou as calças do pijama às riscas azuis e brancas, segurou o pénis e, soltando um pequeno suspiro de alivio, urinou.
Naquela manhã sentiu-se mais vazio do que nas outras manhãs. Mais cinzento, mais moribundo. Sacudiu três vezes e levantou as calças.
Meia hora depois, despediu-se da mulher e dos quatro filhos e saiu de casa. Meteu-se no helicóptero que o esperava com as hélices em banho-maria e foi para o escritório. Nunca mais foi visto. Na verdade, de tanto desejar ser invisível, deixou de existir.