sexta-feira, 25 de fevereiro de 2005

De repente, é a minha vez

já vi tanta gente blá blá blá cruzes canhoto e depois Salvaterra de Magos ou a missão dos duendes e os duetos salvem-se os duetos minha nossa senhora credo a minha missão na terra é sorver a dor e de repente andamos todos à procura de alguém que se perdeu na mata e a maré está a subir mas o que importa é a amizade e eu de repente de repente esqueci-me de tudo da minha morada do meu nome dos meus códigos de acesso a uma festa e o social é tão importante é como ouvir a sirene dos bombeiros no domingo ao meio-dia a assinalar o fim dos circos e os acrobatas eram tão giros e aquelas cambalhotas eram o fim do mundo anunciado em pequenos pacotes brilhantes e a miséria oh meu deus a miséria faz-me tanta impressão os mutilados e os famintos os paralíticos e as pessoas que continuam a falar blá blá blá cruzes canhoto tenho a impressão que já daqui não saio e ele saiu e ficou a pensar que perdeu alguma coisa ou que se esqueceu da torneira aberta e depois e depois o pingar enlouquece os que ficam deitados a pensar que alguma coisa terrível vai acontecer e apontam para o céu e dizem que não vai chover durante muito tempo e depois e depois acho que sim que tenho muito para dizer mas faltam-me as palavras as ideias os nomes esqueci-me outra vez dos nomes e dos que abriram as almas e os corações e me deixaram olhar para eles e de repente toca a campainha é a minha vez e vou ao guichet e explico à senhora que deixei o olhar algures e que agora não tenho olhar e que isso é tão complicado é complicado sair à rua sem olhar as pessoas pensam que não somos humanos e apontam-nos os dedos e eu saio à rua todos os dias a suplicar que não me apontem mais os dedos e a senhora devolve-me o olhar de soslaio e eu fico assim a olhar de soslaio sempre até ao fim dos meus dias e a pedir desculpa a todos e têm de ler isto depressa para sentirem a ansiedade de não poder olhar em frente e depois e depois encontraram o sítio onde estava a pessoa que se perdeu mas ela já não estava lá e agora e agora e agora e agora e agora...

De repente é outra vez a minha vez.